quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Diplomacia

Não fosse a chuva, o silêncio era completo. Acordada e desacordada consigo, sofria e pensava que havia morrido para o mundo. Aquela madrugada lhe parecia eterna. Andou pela casa e recordava outros tempos. Pensou na vida... Imaginariamente freqüentou lugares, lembrou-se de pessoas, na verdade, voou para o passado. Mas para justificar a dor da angústia, solicitou de si equilíbrio.
Irina sabia que algo se pronunciava diferente no convite de Mateus, gerente do supermercado Ênfase. Porém, antes que fosse aberta a porta do amanhecer daquele dia especial, ainda visitou a porta-retratos para ganhar forças dos rostos e expressões daqueles entes queridos que habitavam os compartimentos de sua alma, mas que já estavam no além. Visitou-os, um a um, relembrando situação, circunstâncias vividas e proporcionadas por aqueles que o jogo da vida e da morte, impusera a adeus inevitável de algum dia.
Um tanto de esperança se apropriou de Irina. Surpresa se animou e um sentimento, que não sabia nomear, significou bem-estar.
Mateus tinha sido claro e objetivo. 'você quer ou não quer aceitar esse desafio?' Pensou, que é capaz', disse para Irina, Mateus. Precisamos aqui no Ênfase de alguém com seu perfil, ou seja, assim: educada e paciente'.
Irina se arrumava, com a satisfação e dúvida, de uma adolescente que se prepara para o seu primeiro baile. Estava alegre. Por que não dizer feliz? Diante do espelho sorria e com cuidado, penteava os cabelos lavados. Pensava na roupa, que teria que ser adequada para sua estréia no Ênfase sabia, o seu grande palco de resgate de uma vida que poderia ser importante, plena e longeva, daquele dia em diante.
Porém, leitor, cumpre-me fazer uma inconfidência, e, desde já, peço-lhe desculpas. Pois na noite que antecedeu esse dia de libertação da vida de Irina, esta nossa querida personagem deu-me um telefonema e nesse demonstrava-se perplexa e preocupada.
_ Alberto, boa noite, você pode conversar um pouco?
O que , imediatamente, consenti. Disse-lhe que falasse a vontade, perguntou-lhe se estava bem.
_ Meu querido Alberto você não imagina o que me aconteceu!? Sabe o supermercado Ênfase? Pois é, o gerente Mateus me convidou para ser hostess. Você sabe do que se trata?
Fiz um hum... humm. E, assenti, que mais ou menos, tinha alguma noção.
Sem titubear, e como uma metralhadora de palavras e sentimentos, passou a me explicar qual seria sua nova missão.
_ O Mateus quer que eu seja o 'cuidado' com os clientes, mas muita imparcialidade, equilíbrio e serenidade. Toda a orientação ao cliente dentro da loja vai ser função minha. Terei que exercitar condições de dizer não e também sim para os clientes. Minha performance deverá ser firme nos momentos que exigirem firmeza, mas em outras situações que exigem flexibilidade terei que disponibilizá-la. Parece-me que algumas tentativas já foram realizadas em outras empresas. No entanto pela complexidade que se estabelece quanto aos relacionamentos no âmbito da hierarquia das lojas supermercadistas, essa experiência não tem dado muito certo. Porém o pessoal do Ênfase quer experimentai-la. O Mateus me disse que eles pensam que essa experiência é uma exigência dos tempos atuais.
Escutava com atenção e vivia a sensação de que gostava do que estava ouvindo.
E Irina continuava:
_ Eles pensam, assim me disse Mateus, que se houver um combate aos sentimentos primitivos, dentro da loja, como ciúme, inveja e vaidades na hierarquia, esse processo pode se tornar uma condição de melhor resultado. O problema passa pelo corporativismo emergente de gerentes que não evoluíram e da insegurança desses, que interpretam, que podem ser destituídos. Dizem que a hostess é muito importante em outros países, por tratar-se da responsável pela logística do atendimento.
Pediu-me desculpas pelo incômodo e se despediu.
Acentuei, que lhe desejava um ótimo trabalho e vida nova.
                                                                                                                         Alberto Pantoja
 

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